quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Casablanca 25.06.1993


está tudo bem
a rádio transmite no início de cada hora
o bater de um coração grande

as paredes não se queixam de mal dos pulmões
as ruas podem com um bocadinho de esforço limpar-se
das marcas das lágrimas
o céu não precisa senão de uns retoques

e de algumas novas imagens de anjos

até os que morreram por vossa causa vos perdoarão numa festa

animada

Ahmed Barakat

Tradução: André Simões


الدار البيضاء في 25.06.1993

كُل شََيء بِخَير

الراديو يَذيعُ عَلى كُلِّ رَأِسِ سِاعة
نَبَضاتَ القَلْبِ الكَبير

الحَيطان لا تَشْكو من مَرَضِ في رِئَتِها
الشوارع يُمْكِن بِقَليل من الجَهْدِ تنظيفها
من آثار الدَمَع
السمِاء لا تَحْتاجُ سِوىً لرتوشات
وبَعْض الصوَر الحَديثة لمَلائكة

حَتّى الذين ماتوا بِسَبَبِكُمْ سَيسامحونكم في حَفْلِ
بِهَيج

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Metamorfoses de Nitócris no Livro dos Mortos . 2 & 3


2
ofereci-lhe na missa primeira e na segunda e na terceira
o pão encarnado . o vinho . os beijos

3
aqui estou eu. nu. como a nudez eterna do céu de verão.
o mar - o exílio - o deserto
as palavras


Abd al-Wahab al-Bayyati
(de "Metamorfoses de Nitócris no Livro dos Mortos")

Tradução: André Simões


٢
قَدَّمْتُ لها في القُدّاسِ الأولِ والثاني
خُبْزَ الجَسَدَ - الخَمْرَ - القُبُلات

٣
ها أنذا عَارٍ عُريَ سَماءِ الصَّيفِ
الأبَدي ــ البَحْر ــ المَنْفىً ــ الصَّحْراء
الكَلِمات


N.B.: o árabe tem, no início da segunda linha, "o pão de carne". Optei por "pão encarnado" tendo em conta as evidentes conotações desta estrofe com a liturgia cristã.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Metamorfoses de Nitócris no Livro dos Mortos . 5 & 6


5
chegou um tempo para o amor & vão chegar tempos para a morte

6
não nos sobra nada senão o silêncio

Abd al-Wahab al-Bayyati
(de "Metamorfoses de Nitócris no Livro dos Mortos")

Tradução: André Simões

٥
زَمَنٌ لِلْحُبِّ أَتى وسيَأْتي أَزْمانٌ لِلْمَوت

٦
لَمْ يبق لَنا إلا الصَــــــــمْت

domingo, 6 de setembro de 2009

Metamorfoses de Nitócris no Livro dos Mortos . 3


3
aqui estou eu. nu. a nudez eterna do céu de verão.
o mar - o exílio - o deserto
as palavras


Abd al-Wahab al-Bayyati
(de "Metamorfoses de Nitócris no Livro dos Mortos")

Tradução: André Simões


٣
ها أنذا عَارٍ عُريَ سَماءِ الصَّيفِ
الأبَدي ــ البَحْر ــ المَنْفىً ــ الصَّحْراء
الكَلِمات

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Fantasma



(para um guarda:) vou-te ensinar a esperar
à porta da minha morte adiada

tem calma, tem calma

talvez te fartes de mim

e tires a tua sombra de cima de mim

e entres na tua noite livre

sem o meu fantasma

Mahmûd Darwîsh

(de "Estado de Sítio", 2002)

Tradução: André Simões
إلى حارِسٍ: سَأَعْلِّمُكَ الاِنْتِظار
عَلى بابِ مَوتي المُؤجَّل
تَمْهَّلْ، تَمْهَّل
لَعَلَّكَ تَسْأمُ مِنَي
وَتَرْفَعُ ظِلَّكَ عَنّي
وَتَدْخُلُ لَيلَكَ حُرّاً
بِلا شَبَحي


Papagaio de papel


vai brincar um menino com um papagaio de papel
de quatro cores

(vermelho preto branco verde)

e a seguir entra numa estrela fugitiva


Mahmûd Darwîsh
(de "Estado de Sítio", 2002)

Tradução: André Simões


سَيَلْعَبُ طِفْلٌ بِطائرةٍ مِن وَرَق
بِألوانِها الأرْبَعَة
(أَحْمَر، أَسْوَد، أَبْيَد، أَخْضَر)
ثُمَّ يَدْخُلُ في نَجْمَةٍ شارِدة

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Rua da morte



vai nascer um menino. aqui. agora.

na rua da morte. à uma hora.


Mahmûd Darwîsh
(de "Estado de Sítio", 2002)

Tradução: André Simões
سَيولَدُ طِفْلٌ، هُنا الآن،
في شارِعِ المَوتِ... في الساعةِ الواحِدة

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Aborrecimento


durará este cerco até que
o sitiante, como o sitiado, sinta

que o aborrecimento

é a maior das qualidades do Homem

(de "Estado de Sítio", 2002)

Mahmûd Darwîsh
Tradução: André Simões
versão preliminar

سَيَمْتَدُّ هَذا الْحِصارُ إلى أَن
يُحِسَّ المُحاصِرُ، مِثْل المُحاصَرِ
أَن الضَجَر
صِفةٌ مِن صِفاتِ البَشَر

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ilíada


durará este cerco até deixarem
os senhores do Olympo de polir a Ilíada imortal

(de "Estado de Sítio", 2002)

Mahmûd Darwîsh
Tradução: André Simões
versão preliminar


سَيَمْتَدُّ هَذا الْحِصارُ إلى أَن يُنَقِّحَ
سادةُ "أُولِمْب" إلياذةَ الخالِدة

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Cerco


durará este cerco até
arrancarmos as nossas árvores
com as mãos dos médicos e dos oráculos

(de "Estado de Sítio", 2002)

Mahmûd Darwîsh
Tradução: André Simões
versão preliminar



سَيَمْتَدُّ هَذا الْحِصارُ إلى أَن
نُقَلِّمُ أَشْجارَنا
بِأَيَدي الْأَطْباءِ، وَالْكَهَنَة

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Azul


um pouco de absoluto do azul infinito
basta
para aliviar a opressão deste tempo
e limpar a lama deste lugar

(de "Estado de Sítio", 2002)

Mahmûd Darwîsh
Tradução: André Simões
versão preliminar

قَليلٌ مِن المُطْلَق الأَزْرَقِ اللانهائيِّ
يكفي
لِتَخْفيف وَطْأةِ هذا الزمان
وتنظيف حَمْأةِ هذا المكان

terça-feira, 30 de junho de 2009

Escrita


a escrita é um cãozinho pequenino a morder o vazio
a escrita fere sem sangrar

(de "Estado de Sítio", 2002)

Mahmûd Darwîsh
Tradução: André Simões
versão preliminar

الكِتابةُ جَرْوٌ صَغيرٌ يَعَضُّ العَدَم
الكِتابةُ تَجْرَحُ من دُونَ دَم

domingo, 28 de junho de 2009

A porta . 9


(9)
ele fecha a porta. não para prender as suas alegrias
.
para libertar as suas tristezas

Adónis (Adûnis)
Tradução: André Simões

versão preliminar

٩
أَغْلَقُ البابَ، لا لِيُقيَّد أَفْراحَه،
... لِيَحرِّر أَحْزانَه



N.B.: trata-se da 9.ª secção de "O deserto (diário de Beirute sitiada)"

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Bilhete de identidade


toma nota:
eu sou árabe
e o número do meu BI é cinquenta mil
e os meus filhos são oito
e o nono chegará depois do verão
.
e então, isso aborrece-te?

toma nota:

eu sou árabe

e trabalho com um bando de operários numa pedreira

e os meus filhos são oito
.
trago-lhes das pedras uma
fatia de pão,
e roupas e cadernos
e não peço caridade à tua porta

e não me encolho
na tijoleira da tuas entradas.
e então, isso aborrece-te?

toma nota:

eu sou árabe,

eu sou um nome sem título,

paciente num país onde todos
vivem em convulsões de fúria.
as minhas raízes

rasgaram a terra antes do nascer dos tempos
e antes do abrir das eras
e antes do cipreste e da oliveira
e antes do despontar da erva.

o meu pai é da família do arado,

não de grandes senhores,
e o meu avô era lavrador,

sem educação, sem linhagem.

educa-me o assomar do sol antes da leitura dos livros,

e a minha casa é a barraca do caseiro,
feita de galhos e de canas.
e então, agrada-te a minha condição?

eu sou um nome sem título!

toma nota:
eu sou árabe
e a cor do meu cabelo é negra cor de carvão
e a cor dos meus olhos é castanha.
e os meus sinais particulares são
sobre a cabeça um cordão em cima de uma cúfia,
e a palma das minhas mãos rija como um penedo
arranha ao toque.
e a minha morada:
eu sou de uma aldeia perdida, esquecida
de ruas sem nome,
e os seus homens estão todos no campo e na pedreira.
e então, isso aborrece-te?

toma nota:
eu sou árabe

tu roubaste os pomares dos meus avós

e a terra que lavrei

eu e os meus filhos todos,
e não nos deixaste nada, nem a nenhum dos meus netos,

senão estes penedos.
pois vai o vosso governo
levá-los, como se diz?

portanto

toma nota

à cabeça da primeira página:

eu não odeio os homens

e não ataco ninguém
,
mas se tiver fome

como a carne do meu usurpador.

cuidado
cuidado

com a minha fome
e com a minha fúria.


Mahmûd Darwîsh
Tradução: André Simões
بِطاقَة هُوِيَة

سَجِّلْ!
أنا عَرَبِيٌ
وَرَقْمُ بِطَاقَتِي خَمْسُونَ أَلْف
وَأَطْفَالِي ثَمَانِيَّةٌ
وَتَاسِعُهُمْ.. سَيَأَتِي بَعْدَ صَيف!
فَهَلْ تَغْضَب؟

سَجِّلْ!
أنا عَرَبِيّ
وأَعْمَلُ مَعَ رِفَاقِ الْكَدْحِ في مَحْجَر
وأَطْفَالِي ثَمَانِيَّة
أَسُلُّ لَهُمْ رَغِيفَ الْخُبْز،
وَالْأَثْوَابَ والدَّفْتَر
مِنَ الصَّخْر
وَلا أَتَوَسَّلُ الصّدَقاتِ مِنَ بَابِك
وَلا أَصْغَر
أَمامَ بَلاطِ أَعْتابِك
فَهَل تَغْضَب؟

سَجِّلْ!
أنا عَرَبِيّ
أنا اِسْمٌ بِلا لَقَب
صَبورٌ في بِلادٍ كُلُّ ما فيها
يَعِيشُ بِفَوْرَةِ الْغَضَب
جُذُورِي...
قَبْلَ مِيلادِ الزَّمانِ رَسَت
وَقَبْلَ تَفَتَّحِ الْحِقَب
وَقَبْلَ السّرْوِ وَالزَّيتُون
وَقَبْلَ تَرَعْرُعِ الْعُشْبِ

أَبِي.. مِنْ أُسْرَةِ الْمِحْراث
لا مِنْ سَادَةٍ نُجُب
وجَدِّي كَانَ فَلّاحاً
بِلا حَسَبٍ.. وَلا نَسَب!
يُعُلّمُني شُمُوخَ الشَّمْسِ قَبْلَ قَراءَةِ الْكُتُب
وَبَيتِي كُوخُ ناطور
مِنَ الْأَعوادِ وَالْقَصَب
فَهَل تُرْضِيكَ مَنْزِلَتِي؟
أنا اِسْمٌ بِلا لَقب!

سَجِّلْ!
أنا عَرَبِيّ
وَلَونُ الشعرِ.. فَحْمِيّ
وَلَونُ العَينِ.. بُنِّيّ
وميزاتي:
على رَأِسِي عِقالٌ فَوقَ كُوفِيّة
وكَفِّي صُلْبَةٌ كَالصَّخْر
تخَمِشُ مِنْ يَلامَسَها
وَعُنواني:
أنا مِن قَريةٍ عَزْلاءَ مَنْسِيَّة
شوارعُها بلا أسماء
وكُلُّ رِجالِها في الْحَقْلِ وَالْمَحْجَر
فَهَل تَغْضَب؟

سَجِّلْ!
أنا عَرَبِيّ
سَلَبْتَ كُرُومَ أَجْدادي
وَأَرْضاً كُنْتُ أَفْلَحُها
أنا وَجَمِيعُ أَولادي
وَلَمْ تَتْرُكْ لَنا.. وَلِكُلِّ أحْفادي
سِوى هذي الصَّخُور..
فَهَل سَتَأْخُذُها
حُكُومْتُكمْ.. كَما قِيلا؟

إذَنْ!
سَجِّلْ بِرَأِسِ الصَّفْحِةِ الْأَولى
أنا لا أَكْرَهُ النَّاس
ولا أسْطُو عَلى أَحَدٍ
وَلَكِنِّي.. إذا ما جُعْت
آكُلُ لَحْمَ مُغْتَصِبي
حَذارِ..
حَذارِ..
مِنْ جُوعي
وَمِنْ غَضَبي

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A dor negra


o negro é o espirrar do sangue de cada dia
o negro é também a cor peculiar das máquinas de ferir
e a dor é um gozo negro

o negro é a mancha queimada de óleo humano sobre
a terra
é o óxido de cansaço espesso nos olhos dos gatos
e a dor é o miar cortado na escuridão

na corrente de fogo
na cinza dos dedos velhos no asfalto
na cabeça cortada da criança no caminho

a dor negra
também é todo este fumo
enquanto a parede respira com pulmões de ferro

Ahmed Barakat
Tradução: André Simões
Versão preliminar
الأَلَم الأسود

الأَسودُ هو نُفاياتُ الدَّمِ اليَومِي

الأَسودُ هو أَيضاً اللَّونُ الخاصُ بِآلات الجَرْح
والأَلَم هو اللَّذَّةُ السَّوداء

الأَسوَدُ هو بُقَعُ مَحْرُوقُ الزَّيتِ البَشَرِي على
الأَرْض
هو أُ
وكْسِيد التَّعَبِ السَّمِيكِ على عَيونِ القِطَط
والألم هو المواء المتقطع في الظلام

في سلسلة الحريق
في رماد أصابع العجوز على الإسفلت
في رأسِ الطِفْلِ المقطوعِ في الطِرِيقِ

الألَمُ الأَسوَدُ
هو أَيضاً كُلّ هذا الدُّخان
بَينَما الجِدار يَتَنَفَّسُ بِرِئَتَينِ مَن حَدِيد

terça-feira, 14 de abril de 2009

Filhos da guerra


na noite de núpcias
levaram-no para a guerra,

e passaram-se ... cinco anos de privação

e no dia em que voltou numa maca vermelha
vieram esperá-lo ao porto
os seus três filhos

Samîḥ al-Qâsim
Tradução: André Simões
أَبْناءُ الحَرْب

في لَيلةِ الزِّفاف
ساقُوهُ لِلْحَرْب،

ومَرَّتْ.. خَمْسةُ عِجاف

ويَوم أن عادَ على حَمّالةٍ حَمْراء
لاقاهُ في المِيناء
أَبْناؤهُ الثَّلاثة

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Confissão no pino do meio-dia


eu plantei a árvore
eu desdenhei-lhe o fruto
eu juntei-lhe os ramos para os queimar
eu fiz o alaúde
eu toquei a melodia

eu parti o alaúde
eu perdi o fruto
eu perdi a melodia
eu... chorei a árvore

Samîḥ al-Qâsim
Tradução: André Simões

اِعْتِراف في عِزّ الظَّهيرة

أنا غَرَسْتُ الشَّجَرة
أنا اِحْتَقَرْتُ الثَّمَرة
أنا اِحْتَطَبْتُ جِذْعَها
أنا صَنَعْتُ العُود
أنا عَزَفْتُ اللَّحْن

أنا كَسَرْتُ العُود
أنا اِفْتَقَدْتُ الثَّمَرة
أنا اِفْتَقَدْتُ اللَّحْن
أنا .. بَكيتُ الشَّجَرة

domingo, 12 de abril de 2009

Bilhetes de viagem


e no dia em que me matar
o matador achará na minha algibeira
bilhetes de viagem
um para a paz
um para os campos e a chuva
um
para a consciência dos Homens
(peço-te que não desperdices os bilhetes
meu querido matador
peço-te que partas em viagem...)

Samîḥ al-Qâsim
Tradução: André Simões
تذاكرِ سفر

وعندما أُقْتَلُ في يومٍ من الأيام
سَيَعْثِرُ القاتِلُ في جَيبي
على تذاكِرِ السَّفر
واحدة إلى السلام
واحدة إلى الحُقولِ والمَطَر
واحدة
إلى ضَمائر البشر
( أرجوك ألاّ تُهْمِل التذاكِر
يا قاتِلي العَزيز
أرجوك أن تُسافر...)

segunda-feira, 2 de março de 2009

O sonho do poema



Dorme cedo o poema
no corpo do poeta
por duas razões que não aceitam disputa:
ou porque o poema se abstém do sonho
ou porque o guerreiro
decidiu descansar!
Entre duas mãos sonhadoras apenas - o poema dorme de pé!

Boujema el Aoufi
Tradução: André Simões
حلم القصيدة

تنام القصيدة باكراً
في جسد الشاعر
لسببين لا يحتملان المجاهدة:
إما لامتناع القصيدة عن الحلم
أو لأن المحارب
قرّ أن يستريح!
بين الأيدي الحاممة فقط: تنام القصيدة واقفة

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um espelho para o século vinte



um caixão vestido com a cara de um menino
um livro
escrito no ventre de um corvo
uma fera que avança, trazendo uma flor

uma pedra
respirando nos pulmões de um louco

é este
é este o século vinte


Adónis (Adûnis)

Tradução: André Simões

مرآة للقرن العشرين

تابوت يُلبَس وجه الطفل
كتاب
يُكتَب في أحشاء غُراب
وحش يتقدّم، يحمل زهرة

صَخْرة
تنتفس في رئتي مجنون

هوذا
هوذا القرن العشرون

Relógio de parede




M e s q u i t a
por Shakreez
a minha cidade ruiu
e ficou o relógio de parede

e o nosso bairro ruiu

e ficou o relógio de parede

e a rua ruiu

e ficou o relógio de parede

e a praça ruiu

e ficou o relógio de parede

e a minha casa ruiu

e ficou o relógio de parede

e a parede ruiu

e ficou

o relógio de parede


Samîḥ al-Qâsim
Tradução: André Simões
ساعة الحائط

مدينتي انهارت،
وظلت
ساعة الحائط
وحَيَّنا انهار،
وظلت ساعة الحائط
والشارع انهار،
وظلت ساعة الحائط
والساحة انهارت،
وظلت ساعة الحائط
ومنزلي انهار،
وظلت ساعة الحائط
والحائط انهار،

وظلت..
ساعة الحائط